sexta-feira, 1 de março de 2013


Finalmente em casa depois de um longo dia de trabalho, após concluir um projeto que meu chefe estava me pressionando para fazer, posso descansar. Vai ser bom mas, a parte que mais me empolga é poder ver meu filho de novo! Finalmente venci a briga judicial com minha esposa para conseguir a custódia dele e agora vou finalmente poder cuidar dele. Arrumei meu quarto extra e deixei praticamente vazio, só com o básico, para decorarmos juntos depois, como ele preferisse. Depois do jantar estava subindo as escadas e quando ele ouviu que eu o fazia, me chamou de seu quarto:

"Papai, não posso dormir, tem um monstro na janela!"

Monstro, bem original pra uma criança.

"Ah, não se preocupe, são só os galhos da árvore no vento. Está vendo?"


Mostrei a ele os galhos e ele confiou em mim o suficiente para voltar a dormir. Dei-lhe um beijo de boa noite. Finalmente, hora de dormir. Mal podia ver meus passos, me arrastei até a cama e fiquei pensando em ter que lidar com monstros sendo que amanhã teria de matriculá-lo, comprar roupas de escola, fazer compras... não conseguia colocar os pensamentos em ordem, precisava dormir. Foi então que ele me chamou de novo. Cara, eu adoro esse moleque, mas eu precisava de um pouco de sono!

"Papai, o monstro voltou!" ele praticamente ganiu com medo.

Olhei pela janela: Não, nada além dos galhos da árvore. Fui até lá e abri a janela, provei que não havia nada, só galhos.

"Eu te disse, vá dormir, amanhã temos que acordar cedo."

Ele ainda estava meio incerto pelo que vi, mas o que eu podia fazer, estava cansado demais. De novo, fui até o conforto de minha cama, me deitei, e ouvi seu choro. Foi o basta para mim.

"Tá, eu vou deitar com você e caso veja o monstro basta se agarrar forte em mim."

Voltei ao seu quarto, puxei seu cobertor vermelho e deitei do lado da criança.

Ali deitado, de olhos fechados, comecei a pensar. Eu não tinha comprado lençóis brancos? Olhei meu filho e vi seu pescoço ensanguentado. Foi aí que ouvi o monstro, agora não estava batendo no vidro, mas a alguns passos da janela, dentro do quarto. Não pude fazer nada além de rir. Como não havia percebido que não haviam árvores no meu próprio jardim?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013


 Conta-se que uma moça estava muito doente e teve que ser internada em um
hospital. Desenganada pelos médicos, a família não queria que a moça soubesse
que iria morrer. Todos seus amigos já sabiam. Menos ela. E para todo mundo que
ela perguntava se ia morrer, a afirmação era negada.

 Depois de muito receber visitas, ela pediu durante uma oração que lhe enviassem
flores. Queria rosas brancas se fosse voltar para casa, rosas amarelas se fosse
ficar mais um tempo no hospital e estivesse em estado grave, e rosas vermelhas
se estivesse próxima sua morte.

 Certa hora, bate a porta de seu quarto uma mulher e entrega a mãe da moça um
maço de rosas vermelhas murchas e sem vida. A mulher se identifica como
“mãe da Berenice”. Nesse meio de tempo, a moça que estava dormindo
acordou, e a mãe avisou pra ela que a mulher havia deixado o buquê de rosas,
sem saber do pedido da filha feito em oração.

 Ela ficou com uma cara de espanto quando foi informada pela mãe que quem havia
trazido as rosas era a mãe da Berenice. A única coisa que a moça conseguiu
responder era que a mãe da Berenice estava morta há 10 anos.

 A moça morreu naquela mesma noite. No hospital ninguém viu a tal mulher
entrando ou saindo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


 Era véspera de natal, estávamos todos em festa, enquanto eu em meus plenos 8 anos, esperava a vinda do Papai Noel.
 Todos diziam que ele não existia, mas eu sempre acreditei nos meus pais, eu pensava que eles nunca mentiriam pra mim.
 Naquele dia passei a noite acordado, eu queria ver o Papai Noel e provar para meus amigos que eles estavam errados e que meus pais não mentiram pra mim.
 De repente, enquanto pensavam que eu dormia vi meu pai, com presentes na mão colocando-os debaixo da árvore, me senti enganado e com raiva, pois não imaginaria que meus próprios pais pudessem mentir pra mim dessa forma.
 Fui pra cama e me deitei enquanto a raiva me perguntava como fui tão burro… Enquanto eu me perguntava porque eles me enganaram por tanto tempo.
Foi então que notei risos em meu quarto, olhei pra parede e num cantinho bem escuro estava uma menininha sorrindo.
 Quando cheguei perto dela, a cabeça dela se virou para mim enquanto seu corpo ainda estava de costas para mim, ela simplesmente sorriu, e parecia que eu tinha apagado, desmaiado talvez, mas não foi assim.
O que me parecia um sonho horrível, era a realidade, um sonho vingativo onde eu não controlava meu corpo, e esfaqueava meus pais. De repente, eu acordei e retomei o controle de meu corpo, então percebi que tudo foi real e que eu realmente estava segurando uma faca que perfurava o coração de meu pai…

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Viagem.



O mês de Junho chegara.   A alegria estava presente em todos os cantos do Colégio Marlyn.  Era impossível encontrar um rosto triste.   Não,  a palavra tristeza não faria parte do vocabulário daqueles  alunos no dia de hoje.   Tudo por causa de uma simples e pequena palavra:  férias.   
Alguns alunos do 3° Ano,  sala C,  estavam muito animados.  Camille,  a ruiva,  iria para Paris com seus pais.    Lucie,  a falsa virgem,  passaria os dias na casa dos avós em Stoneyfield.   Budie,  o nerd,  finalmente iria conhecer Mickey e toda a galera,  indo para Disney.  Mas nem todos tinham planos.   Dennis,   Beck e Silvia,  assim como outros,  ficariam mesmo em Silver Hill.
Faltavam alguns poucos minutos para o final da última aula.   A bagunça na sala de aula era geral.  
―  Vai ter festa na casa do Chucky.  ―  disse Beck a Dennis.
Marcy,  sempre atenta a tudo,   intromete-se:
―  As festas dele são uma merda.  ―  O chiclete em sua boca fazia mais barulho que sua própria voz.
―   Não precisa cuspir,  precisa?  ―  disse Dennis,  limpando o rosto.
Marcy mostrou-lhe o dedo.
―   Você vai?  ―  perguntou Beck a Dennis.
―   Aonde,  cara? 
―   Brincar com os 3 porquinhos.  Acorda!  A festa do Chucky.
―   Ah,  sei lá.
Henderson Baxter,  o professor de história,  entra na sala.   A bagunça acaba imediatamente.  Temido por todos estudantes.  Baxter,  o amante das chamadas orais. Baxter,  o apaixonado pelas provas-surpresa.   Ou simplesmente Baxter,  O Carrasco,  como é conhecido entre os alunos do Colégio Marlyn.   Baixote, 62 anos, cabelos grisalhos,  olhar frio,  fala concisa e um gênio terrível.  Sempre bem vestido.  Seu colete vermelho era marca registrada.  Homem misterioso.  
―   Classe,  atenção!  ―  grita Baxter. ―  Somente lápis e uma folha sobre a carteira.  Faremos uma provinha sobre a matéria da semana passada.
A classe emudeceu completamente.  Perplexos,  não conseguiram forças para sequer esboçar uma reclamação.    Quando todos começaram a pegar seus lápis e folhas de caderno,  Baxter levantou de sua cadeira.
―  Foi brincadeira,  classe. 
Ficaram ainda mais perplexos.   O velho Baxter havia dito a palavra brincadeira?   Havia esta palavra em seu vocabulário?
―  Guardem seus lápis.   Não haverá prova.
O alívio foi geral. 
―  Na verdade,  classe,  eu tenho um convite para fazer a vocês.
Todos estavam atentos a cada palavra de Baxter.   Havia algo diferente naquele velho homem.   Até mesmo seu olhar,  sempre frio,  agora parecia inofensivo,  fraterno.
―  Vou dar uma festa no meu sítio e vocês estão todos convidados.   Ou,  melhor,  serão meus convidados de honra.
Ninguém ali acreditava no que ouvira.   Parecia alucinação em massa.  
― Eu sei que não sou um dos seus professores mais queridos.  Sei que sou odiado por alguns…..
―  Alguns?  ―  Sussurrou Marcy,  fazendo sorrir os que estavam próximos.
―  Toda a galera do colégio vai estar lá?  ―  perguntou Lucie.
―   Não.  Foi bom você ter perguntado.   Somente vocês,  a já famosa Classe C.
―   Ah,  qual é,  professor?   ―  resmungou Beck.  ―   As gatinhas estão todas no 3° A,  aqui só tem sobra.
Beck levou a maior vaia das garotas.   O barulho foi tão alto que foi ouvido até pela última sala do corredor.
―   Podemos convidar nossos amigos?  ―  perguntou Beck.
―   Não, pois eu sei que seriam muitos.  Mas não vou proibir que levem namorado ou namorada.   E aí,  vocês vão?
Marcus levantou a mão antes mesmo de Baxter terminar a frase.   Mas nem todos fizeram o mesmo.    Tudo ali estava caminhando rápido demais.   O velho Baxter dizendo “Foi brincadeira”,  convidando desafetos para uma festa particular e falando com uma voz mansa e amistosa.    Não,  eles realmente precisavam de alguns segundos mais para pensar.  
―  Vamos lá,  turma.   Vou provar para vocês que não sou tão ruim como vocês pensam.   Ah,  esqueci de dizer que meu sítio tem piscina,  sauna e….. ―  Baxter fechou a porta da sala e baixou a voz para completar: ―  vai ter cerveja pra todo mundo.
Quase todos levantaram as mãos.   Dennis,  Budie e algumas garotas do coro do colégio estavam entre os indecisos.
―  Por favor  ―  prosseguiu Baxter,  com um tom de voz cada vez mais amigável.  ―  ,eu gostaria muito de que todos fossem,  sem exceção.
Após uma longa pausa,  Budie acabou cedendo.   Foi decepcionante para Dennis ver o nerd topar primeiro,   mas….. antes tarde do que nunca.   Dennis levantou a mão,  sendo acompanhando pelas garotas do coro.
O sinal tocara.   A explosão de alegria chegou ao seu auge.   Era uma gritaria só,  o que nunca fizeram na presença de Baxter.   Talvez a voz mansa e o jeitão amistoso fizeram-no parecer outra pessoa.   Ali estava a versão boa do velho Baxter.   Seria possível?
―   Calma,  classe!  ―  disse Baxter.  ―  Eu ainda não expliquei como chegar á festa.   Creio eu que ninguém aqui conhece meu sítio,  certo? 
Fez-se silêncio.
―  Meu sítio fica um pouco longe daqui,  então eu tomei a liberdade de pedir emprestado o ônibus do colégio e….
A classe inteira caiu na gargalhada.
―  Ah,  não acredito que vou andar naquilo outra vez.  ―  disse Beck,  chorando de rir.
―   Aguardo vocês aqui em frente ao colégio amanhã ás 17:00hs.  Combinado?
Todos concordaram.
―   Mas quero todos aqui amanhã,  hein!  Vai valer ponto para o próximo semestre. 
Os alunos olharam-no espantados.   Baxter abriu um largo sorriso,   coisa que raramente fizera nos últimos anos.
―  Brincadeira.   Podem ir.   Amanhã a gente se encontra,  classe.
A porta foi pequena para 3 dúzias de jovens eufóricos.   Cadeiras e carteiras foram derrubadas.   Era incrível o desespero para sair do colégio.   Agora era oficial,  as férias realmente começaram.
Dennis,  Beck e Silvia foram os últimos a deixar a classe.   Antes que cruzassem o corredor,  Baxter gritou o nome de Dennis.
―  Espere um pouco,  preciso falar com você.  ―  sua voz ecoou por todo o corredor.
―  O que ele quer comigo?  ―  Sussurrou Dennis a Beck.
―  Talvez seja esta a explicação para a mudança radical.  ―  sussurrou Silvia em tom de ironia.  ―   O carrasco descobriu seu lado gay.
―  Eu sempre achei que o velho Baxter tinha uma quedinha por você, Dennis.  ―  disse Beck.  
Dennis mostrou-lhe o dedo.
Beck e Silvia saíram pelo final do corredor ás gargalhadas.   Dennis foi ao encontro de Baxter.
―  Em que posso ajudar,  professor?
―  Estamos em férias,  pode me chamar de Henderson.
―   Ok.
―   Você não fuma,  não bebe,  também não……. 
―   Não cheiro,  se é isso que quer dizer.
Baxter sorriu.  
―  Livre de vícios.   Isso é bom.  
―   Perdoe-me,  perguntar,  mas…….. aonde quer chegar?
―   Deixe-me explicar.   Preciso de alguém sóbrio para trazer a turma de volta,  caso eu…….
―   Quer que eu dirija o ônibus na volta?  ―  Dennis ficara surpreso.
―   Calma,  deixe-me explicar………
―   Eu topo! 
Agora Baxter ficara surpreso.
―   Desde criança eu sonho em dirigir aquela sucata velha.   Acredite.
―  Eu não disse que você vai dirigi-lo.   Isso só ocorrerá se…….
―  O senhor bebe?
―  Ás vezes eu me excedo um pouco.  Mas não se preocupe,   eu só chamei você aqui para saber se posso contar contigo se eu não estiver bem.   Apenas uma precaução.   Nada mais.
―  Bom,  pode contar sim.
―   Que bom.   Como eu já disse,  é apenas precaução.  ―  Fez-se uma pausa.  ―  Agora vá,  sei que deve estar louco para se livrar do colégio e de professores chatos como eu.
Dennis ficou meio sem graça.
―   De certo modo,  sim.
―  Até amanhã,  Dennis.
Antes de deixar a sala,  Dennis não precisava esclarecer algo.
―   Sr. Bax….. quero dizer,  Henderson,   como sabia que eu não fumo,  não bebo…..
―  E não cheira?  ―  sorriu novamente.  ―  Ah,  você nem imagina o que os professores conhecem dos seus alunos. 
―   ….. e o senhor nem imagina o que falamos dos professores.  ―  sussurrou Dennis.
Beck e Silvia o aguardavam em frente ao portão do colégio.    Beck,  o desleixado.  Silvia,  a Sra. Certinha.   Ambos de 18 anos,  talvez a única semelhança.  Figuras tão diferentes.
―   Sabe que dia é hoje?  ―  perguntou Silvia,  após tirar seu chiclete da boca e jogá-lo ao chão.
―  Sexta-feira.  ―  respondeu-lhe,  enquanto percebia a vinda de Dennis.
―  Nosso primeiro beijo.  Hoje faz 3 anos.
―  Grande coisa.
Silvia ficou irada.
―   Está vendo só?   É por isso que terminamos!  Eu ainda me pergunto como pude ter sido tão idiota para levar 14 meses,  1 semana e 3 dias para descobrir o quanto somos diferentes.  
―  Eu sei o porquê.  Oh,  Beck,  isso,  isso,  vem,  meu garanhão!!  Isso te lembra alguma coisa?
―  Não,  por quê?  ―  disse Silvia.  ―  Mas lembro disso aqui:  Ah,  isso nunca me aconteceu antes!  ―  e olhou para Dennis,  que acabara de chegar.  ―  Sabia que seu amiguinho aí já precisa de viagra?
Beck mostrou-lhe o dedo.
―   Querem saber?  ―  disse Dennis.  ―   Estou de saco cheio destas briguinhas de vocês dois.  
―  Ah,  cara,  corta essa!  ―  resmungou Beck.
―   Diz aí o que o Dr. Rabugento queria com você.  ―  disse Silvia.
―   Ah,  o velho Baxter não está bem da cabeça.   Vamos andando,  eu conto tudo no caminho.
No dia seguinte,  pontualmente ás 17:00hs,  toda a turma do 3° ano,  Classe C,  estava reunida em frente ao Colégio Marlyn.   Ninguém faltara.   Betty e Mandy trouxeram seus namorados,  o que elevou o grupo para 38 jovens.  
―  Não vai caber todo mundo.  ―  repetia Liz,  a patricinha.
―  Se você for sentadinha no meu colo,  dá sim.  ―  gritou uma voz na multidão.  Marcus.
―  Engraçadinho! 
Os minutos iam passando e Baxter não aparecia.
―  Acho que o velho rabugento pregou uma peça em todos nós.  ―  disse Beck.
―  Também acho. ―  disse Budie.  ―  Ele estava muito estranho ontem.
―  E como estava!  ―  disse Marcy,  sempre mascando seus chicletes.
De repente o velho motor do ônibus roncou ao longe.  
―  Ah,  não acredito.  ―  disse Silvia.
Mas era verdade.  Lá vinha o velho Baxter pela avenida,   dirigindo uma máquina ainda mais velha do que ele.   Combinação perfeita.
Dennis,  quando criança,  sonhava em algum dirigir o velho ônibus.   Seria hoje sua grande chance? 
Baxter estaciona e coloca o rosto para fora da janelinha.
―  Estão todos aí?
―  Estamos sim. ―  responde-lhe Camille.
―  Muito bom. 
Baxter abre a porta.   Era impossível não ver um lado cômico naquela cena.   Um bando de adolescentes entrando no ônibus escolar.  Alguns não conseguiam parar de rir.
―  Não vai ter lugar pra todo mundo.  ―  repetia Marcy.
―  O corredor, gente.  ―  disse Baxter.  ―  Vai ter lugar sim.
Realmente tinha.   28 sentados nos bancos e 10 sentados e exprimidos no corredor.
―  Muito obrigado por virem,  turma.  ―  disse Baxter,  fechando a porta.  ―  Sei que várias vezes fui muito duro com vocês,  mas eu queria compensar todos os maus momentos hoje.   Vamos nos divertir muito.  
―   O senhor não esqueceu da cerveja,  certo?  ―  gritou Marcus lá do fundo do corredor.
Todos riram.
―  Não,  Marcus.  Não me esqueci.  ―  e riu também. ―   Bom,  podemos ir?
―  Uhuuuuu!  ―  Marcus novamente.
―  Chegaremos lá em 1 hora. 
Quem estava sentado no corredor resmungou bastante.   Mas o velho ônibus partiu mesmo assim.
Os primeiros 30 minutos seriam tranquilos,  a estrada era asfaltada e uma vista muito bonita dos longos pastos verdes de Silver Hill os cercaria.   Mas enquanto lá fora tudo era paz e serenidade,  dentro daquele ônibus abarrotado de jovens a bagunça corria solta.  Dennis,  Beck,  Marcy e Silvia estavam entre os felizardos que conseguiram bancos.   Ficaram todos no fundo,  onde a agitação parecia ser maior.
―  Até hoje eu não entendi o motivo de você ter terminado com a Rachel.  ―  disse Marcy a Dennis.
Beck teve um ataque de risos.  
―  O que houve?  ―  perguntou-lhe Silvia.
Dennis começara a rir também.
―  O que há de tão engraçado?  ―   perguntou Marcy.
Os dois continuaram a rir.
―  Ah, conta,  Dennis!  ―  repetia Marcy.
―  Conta, cara. ―  disse Beck. ―  Ela já está bem longe mesmo.
―  Tudo bem,  Marcy,   eu conto.  ―  e caiu novamente na gargalhada.
―  Pára com isso e conta logo!
Dennis conseguiu se controlar e parou de rir.
―  Perdão,  sempre que me lembro eu fico assim.  Quer saber mesmo por quê terminamos?  ―  Dennis abaixou o tom de voz e prosseguiu  ―  Toda as vezes que íamos…….
―  Trepar?  ―  Marcy falou um pouco alto,   mais da metade do ônibus virou em sua direção.  ―  Estão olhando o quê?  ―  Marcy era muito esquentada. ―  Continue.  ―  voltou a atenção para Dennis.
―  Como eu ia dizendo,  todas as vezes que íamos transar ela……..
Beck voltou a rir.
―   Ela….. o quê?  ―  gritou Marcy,  impaciente.   Todos olharam novamente.
―  Ela sofria um ataque de gases.  ―  completou Dennis.
Todos no fundo do ônibus começaram a rir descontroladamente,   chamando a atenção dos outros.
Os 30 minutos se passaram.   Agora o papo seria outro.  A estrada era de terra e havia inúmeros buracos.   Parecia ter mais buraco do que estrada.    Aqueles que já estavam desconfortáveis no corredor,  agora passariam pelo inferno.
―  Putzgrila,  professor!  ―  gritou Marcus.  ―  Não tinha um lugar mais perto não?
―  Já estamos chegando.  ―  disse Baxter,  que estava calado até então.
Após 34 minutos de um verdadeiro martírio para os estudantes,   chegaram.    O lugar era espetacular.   Ninguém imaginara que pudesse existir um lugar tão luxuoso como aquele em Silver Hill.   Após atravessarem um longo caminho cercado por gigantescas palmeiras,   dava para ver um belíssimo casarão todo verde,  uma piscina totalmente cheia e várias mesinhas e cadeiras ao seu redor.  
―   Cara,  eu quero ser professor.  ―  disse Beck,  boquiaberto.
―   Isso aqui parece o paraíso.  ―  disse Silvia.
―   Como uma pessoa que possui tudo isso aqui pode ser tão amarga?  ―  sussurrou Marcy.
―  Talvez ele não seja tão ruim assim.  ―  disse Silvia.
―   Está tudo muito surreal.  ―  disse Dennis.  ―   O cara sempre nos tratou como cachorros e de repente convida todo mundo para uma festa num lugar incrível destes.   Não estou entendendo mais nada.
O ônibus se aproximava cada vez mais do casarão.
―  Acho que ele se arrependeu de todas as sacanagens que aprontou com a gente. ―  disse Beck.
Baxter finalmente pára o ônibus.  Estacionara ao lado de uma pick-up preta novinha,  o que deixou os alunos intrigados,   pois Baxter sempre dirigia um Dodge azul marinho caindo aos pedaços.
―  Chegamos,  turma. 
―  Este lugar é lindo,  professor.  ―  disse Camille.
―  Obrigado.  Sintam-se em casa.  ―  fez-se uma pausa. ―   Bom,  assim como eu,  acho que vocês devem estar loucos para sair desta lata velha.   Minhas costas estão me matando.
Todos concordaram. 
―  Enquanto eu termino os últimos preparativos para nossa festa,   a piscina é toda de vocês.   Está cheinha,  como dá pra ver daqui.
A alegria foi geral.    Apenas alguns levaram roupa de banho,  mas isso não impediu que todos,  sem exceção,  caíssem dentro d’água.   A festa começara.   Lugares como aquele só eram vistos pela televisão,  ninguém ali jamais sonhara ver algo assim tão de perto.   Aqueles momentos pareciam sonho.
Algumas horas depois,  quando a noite já caíra,  Baxter deixou o casarão.   Trazia consigo uma bandeja cheia de salgados.   Todos saíram da piscina.   Três refletores com luzes poderosas iluminavam o local por completo.
―   Estão se divertindo?  ―  gritou Baxter.
―   Este lugar é demais,  professor!  ―  disse Marcus,  exibindo o corpo branquelo.
Baxter colocou a bandeja sobre uma das mesas.
―   Mas a festa ainda nem começou.
A turma avançou nos salgados.
―   Calma, classe,  tem muito mais lá dentro. ―  e riu. ―   Olha,  quero moderação no consumo de cerveja,  hein!
Foram todos para o casarão,  este era tão bonito por dentro quanto por fora.   Havia inúmeras estátuas e objetos antigos.   A decoração lembrava mais um museu.  
―   Posso fazer uma pergunta,  professor?  ―  disse Dennis.
―   Claro,  o que quer saber?
―   Por quê ainda trabalha como professor?   Se fosse rico deste jeito eu……
―   História é minha paixão.  ―  disse Baxter,  sério.  ―   Minha única paixão.
―   Ainda não entendo.
―   Já se apaixonou alguma vez,  filho?
Antes que Dennis respondesse,   Baxter chamou a atenção de todos.
―   Por aqui,  turma,  deixei tudo preparado na sala de jogos.   Vocês vão gostar de lá.  ―   e voltou a atenção para Dennis novamente.  ―  E então,  já?
―  Bom,  paixão de verdade mesmo ainda não.
Chegaram de frente para uma porta de quase 2 metros de altura.
Baxter olhou para Dennis.
―  O que foi?  ―  disse Dennis.
―  Ora, abra a porta.  Você é jovem,  tem mais força do que eu, não acha?   Basta empurrá-la com força.
Dennis atendeu-lhe o pedido.   A porta era realmente pesada,  foi preciso esforço para abri-la.
―  Você é forte,  rapaz.   Me faz lembrar meus tempos de jovem.   Ah,  bons tempos.
Atrás da porta estava a sala de jogos.   Havia 3 mesas de bilhar e 1 mesa de ping-pong,  mas a mesa que mais chamou a atenção de todos era a que continha várias bandejas com salgados e cestas repletas com pães.   Os alunos estavam famintos.   Era a visão do paraíso.
―  Sirvam-se á vontade.  ―  disse Baxter com os braços abertos.
A mesa era comprida,  houve espaço para que todos pudessem pegar o que queriam.
―  Oh,  professor,  ―  disse Beck, segurando uma empada gigantesca.  ―  Cadê a cerveja?
―  Ora,  o que seria isso aí atrás de você? 
Beck olhou rapidamente para trás.  Havia um lindo barril,  todo envernizado.
―  Esta casa parece mais um museu  ―  disse Beck. ― ,pensei que fosse mais um objeto antigo.
―  É antigo.  ―  disse Baxter,  pegando um dos inúmeros copos sobre a mesa.  ―  Pertenceu a um pirata.  ―  caminhou até o barril e encheu o copo até a espuma transbordar.  ―  Experimente.  ―  ofereceu a Beck,  este pegou imediatamente e tomou um longo gole.
―  Cacete,  é a melhor cerveja que já tomei em toda a minha vida!
Neste momento uma longa fila se formou diante do barril. 
―  Calma,  turma. ―  disse Baxter com um longo sorriso.  ―  Tem pra todo mundo.
Baxter serviu a todos da fila,  enchia o copo até derramar a espuma.  Dennis e Budie foram os únicos que não tomaram.
―  Cara,  toma um gole!  ―  disse Beck a Dennis,  colocando o copo em suas mãos.
Baxter olhou assustado para os dois,  mas estes nem perceberam.
―   Não quero,  cara.  ―  respondeu Dennis,  devolvendo-lhe o copo.
Baxter voltou sua atenção para a fila,  mas não conseguia desviar totalmente o olhar na direção de Beck e Dennis.
―  Vou tentar voltar com a Silvia.  ―  disse Beck, tomando o último gole do seu copo.
―  Não acredito,  quantos copos você já tomou?
―  É sério,  cara.  Eu não paro de pensar nela.
―  Mas quando estão juntos vocês brigam o dia inteiro.  Esqueceu disso?
―  Ah,  a gente dá um jeito.  
Baxter deixou o barril e pegou um pequeno controle remoto que estava sobre a mesa de ping-pong.   Apertou um dos botões e a voz de Luciano Pavarotti ecoou pela sala.  A qualidade do som era espetacular.
―  Oh,  professor,  não tem nada mais animado aí?  ―  gritou Marcus.
―  Eu trouxe alguns cd’s,  professor.  ―  aproximou-se Camille.  ―  Posso tocá-los?
―  Tudo bem,  afinal,  a festa é para vocês.
Camille trocou Pavarotti por Galla.  A mudança foi bem aceita pela turma.
Baxter aproximou-se de Dennis.
―   Não consigo entender a graça destas músicas de hoje. 
Dennis não disse nada,  apenas sorriu.
―   Você é filatelista,  não?  ―  perguntou Baxter.
―   Perdão,  o que perguntou?
―   Você coleciona selos.  Estou certo?
―   Ah,  sim.   Como sabe?
―   Uma vez ouvi você dizer na sala de aula.
―   Não é grande coisa.   Minha coleção é pequena.
―   Eu também coleciono.   Modéstia á parte,   minha coleção é uma das maiores.
―   É mesmo?
―  Sim.  Quer dar uma olhada? 
―   Vamos lá.
Enquanto isso,   Beck e Silvia acabavam de fazer as pazes com um apaixonado beijo.
―   Ah,  como eu senti falta desses seus lábios.  ―  disse Beck,  com as mãos no traseiro de Silvia.
―   Só dos lábios?  ―  respondeu ela,  dando-lhe uma piscadela e um sorriso maroto.
―   Hum,  está mais safadinha.  Gostei.
Silvia abriu a bolsa e mostrou 3 camisinhas.
―   Hei,  você nunca andou com camis……
Antes que Beck completasse,  Silvia lhe deu um beijo e puxou-o em direção ao corredor.
―  Aonde vamos? 
―   Sempre tive fantasias onde eu transava num celeiro.  
―  É mesmo? 
―   Eu acho que vi um quando estávamos chegando.  Vamos!
Os dois atravessaram todo o casarão e chegaram até uma varanda.
―  Que tal irmos para a piscina?  ―  disse Dennis.  ―  Minhas fantasias também contam?
―  Hoje não.  ―  e puxou Beck novamente.  ―  Vem,  acho que me lembro onde fica.
O céu estava limpo e uma lua cheia iluminava muito bem o sítio. 
―  Eu não vi celeiro algum quando estávamos no ônibus.
―  Ah,  claro que não viu,  você não tirava o olhos do decote da Marcy,  seu sem-vergonha!
―  Eu?   Ah,  dá um tempo.   Você acha…..
―  Está ali!  ―  gritou Silvia,  apontando para a sua esquerda.
Beck olha assustado.
―   Precisava gritar? 
―   Vamos!
Os dois correram por um caminho feito de pedras.   A lua cheia servia-lhes como guia.
―   Silvia,  sinto-lhe informar,  mas isto aqui não está com cara de celeiro.
―  Ah,  tanto faz,  já chegamos até aqui mesmo.
―  Hei,  também não é assim,  e se tiver alguém aí dentro?  Talvez o caseiro e sua esposa.
―  Não vi empregado algum no sítio.
―   Mas deve ter,   o professor não daria conta deste lugar sozinho.  Vem,  vamos ver se tem alguém aí.
Os dois começaram a examinar o local. 
As paredes,  feitas de bambus e argila,  mediam uns 4 metros de altura.   O telhado era de palha.   Era circular.  Não havia janelas,   apenas uma porta de madeira.
Intrigados com aquele estranho lugar,   os dois resolveram empurrar a porta.
―  Quer saber?  Estou ficando excitada com esse lugar.
―   Eu,  hein!   Ficar muito tempo sem o gostosão aqui deixou você tarada.
Ao empurrarem a porta,  esta abriu com facilidade.   Estava totalmente escuro ali.
―  Tem certeza que este lugar está te excitando?   Isto aqui está me dando arrepios.
―  E depois dizem que mulher é o sexo frágil.  Medroso.
Irritado com o que ouvira,  Beck largou a mão de Silvia e entrou no local.   Estava tão escuro que ele sumiu rapidamente.
―  Pára de gracinha!  ―  gritou Silvia.  ―  Volte aqui!
Silêncio total.  Silvia começara a entrar em pânico.
―  Volte aqui,  Beck!   Ok,  você já provou que não é medroso.   Era isso que queria ouvir?   Volte aqui!   Estou com medo!
Um grito ecoa pela escuridão.   Era Beck.
―  Oh,  meu Deus,  Beck!  O que houve?
―  Calma,  está tudo bem.  ―  gritou Beck.  ―  Apenas tropecei em alguma coisa.
―   Seu idiota!  Quase me mata de susto!
Silvia revirou sua bolsa e encontrou o que procurava,  um isqueiro.  Acendeu-o e entrou vagarosamente no local.
―  Cuidado para não tropeçar nas varetas. ―  gritou Beck. ― Há um monte delas pelo chão.
―  Varetas?
―  Sim,  acho que tropecei em uma delas.
Silvia abaixou-se e viu que não se tratava de varetas.
―  São velas!
―  O quê? 
―  Não são varetas,  são velas.   Só não entendo o que estão fazendo pregadas no chão.  ―  arrancou uma e acendeu.  Finalmente avistou Beck,  caído ao chão.  ― Está machucado?
―  Nada de mais,  só alguns arranhões.
―  Mas que lugar mais esquisito! 
―  Bota esquisito nisso.  Ainda está excitada?
―  Oh, yeah!  Acabei de ter uma ideia.
Silvia começou a acender todas as velas que havia no caminho até Beck.
―  Gostou?  O lugar continua esquisito,  porém romântico.
Beijaram-se.
As velas acesas revelaram mais um pouco sobre o lugar.  Havia muitas estátuas,  todas parecidas,  um homem com uma cabeça de bode.
―  Isto aqui está parecendo centro de macumba.  ―  disse Silvia,  olhando ao seu redor.
―  O casarão está cheio de objetos antigos.  Talvez isto aqui seja um lixão.
―  Ah,  agora tanto faz.  Já chegamos até aqui mesmo. 
Dennis babava sobre a coleção de selos do professor Baxter.
―  Há selos aqui que devem valer uma fortuna.
―   Sim,  tenho alguns valiosíssimos.   Mas não os venderia por nada neste mundo.
Fez-se silêncio.  
―  Sr, Baxter,  perdoe-me se estiver sendo bisbilhoteiro,  mas….. o senhor não tem esposa ou filhos?
―  Já tive,   meu rapaz.  Há muito tempo.
O semblante de Baxter mudou radicalmente,  deixando-o claramente triste.
―  Acho que eu não devia ter tocado neste assunto.  Perdão,  professor.
―  Tudo bem,  são apenas lembranças de um homem que já viveu por muito tempo.
―  Ah,  mas o senhor não é tão velho assim.  Tem muito chão pela frente.
―   Você nem imagina o que eu já vi por este mundo afora.
De repente uma voz gritando desesperadamente ecoa pelo casarão.
―   O que está acontecendo?  ―  diz Dennis.
Baxter levanta-se imediatamente.
―   Coisa de vocês jovens.
Os gritos continuam.
―   Espere um pouco,  parece a voz da Silvia.
Dennis corre até a janela e vê Silvia e um monte de garotos e garotas saindo correndo do casarão.
―  Mas que diabos está acontecendo?   Hei, Silvia!  Silvia! 
Ela o ouviu,  mas não conseguiu ver de onde vinha seus gritos.
―  Aqui em cima!   Aqui,  Silvia!
Finalmente ela o avistou.
―  Beck está passando mal!   Onde está o professor?   Acho que precisamos de um médico!
Baxter apareceu na janela.
―  O que está havendo com o rapaz?
―   Não sei direito.   Nós estávamos…….. Ele começou a se contorcer todo e a vomitar sem parar.    Por favor, professor,  chame um médico!  Acho que é urgente!
―  Fique calma.  Ligarei agora mesmo.
―  Obrigada.  ―  e saiu correndo.
Baxter correu até a escrivaninha e pegou o telefone.  Discou os números rapidamente.
―  Espero que esteja em casa.  ―  sussurrou ele.
―  Professor,  vou ver como ele está.
Baxter fez-lhe sinal de positivo.   Dennis saiu correndo,  desceu as escadas mais rápido que um foguete.   A música continuava alta ali embaixo, mas não havia ninguém na sala de jogos.   A gritaria de Silvia deixara todos assustados e curiosos.  
―  É por isso que eu não bebo,  meu amigo.  ―  pensou Dennis em voz alta,  e saiu correndo pelo corredor.
Ao deixar o casarão,  Baxter grita da janela.
―  Acalme seu amigo,  avise que o médico já está a caminho,  Ok?
―  Obrigado,  professor.
Dennis não sabia onde Beck estava exatamente,   mas saiu correndo na direção em que Silvia correra há pouco.  
Não foi difícil encontrá-lo.   Toda a turma estava reunida ali naquele estranho lugar.  Dennis não conseguia entender o que estava diante de seus olhos.  Velas acesas sobre o solo.  Gritos histéricos,  gemidos de dor e o choro de Silvia.
―   O que houve aqui?  ―  gritou Dennis, entrando no local.
Ninguém notou sua presença.   Dennis avista Silvia chorando de joelhos,  abraçada a Beck.
―   Silvia!  ―  e vai em sua direção.  ―  O que houve?
Enquanto se aproximava,  Dennis ia olhando ao seu redor e imagens assustadoras chocavam-lhe,   amigos seus gritando de dor,  muitos outros chorando, estátuas assustadoras,  além de um cheiro insuportável de vômito.
Silvia finalmente nota sua presença e,  aos prantos,  grita:
―  Beck está morto! 
Dennis não acredita no que ouve,  e se aproxima dos dois.
―  Calma,  Silvia.   O professor já chamou um médico.
―  Beck está morto!   Ele está morto!   ―  estava em estado de choque.
Dennis colocou seu ouvido sobre o peito de Beck.  Não havia sinal algum de vida. 
―  Oh,  meu Deus!
Silvia começou a vomitar.   Dennis entrou em desespero.   Gritos de dor,  o cheiro horrível,   as estátuas,  as velas,   todas estas imagens rodopiavam em sua mente,   era a mais crua visão do inferno.   Nenhum pesadelo se comparava àquele momento apavorante.
De repente o silêncio total.  Dennis olha lentamente ao seu redor.  Os corpos dos alunos caídos sobre o solo úmido e fétido.  Todos mortos.  Se houvesse um momento para acordar do seu pesadelo,  Dennis sabia que agora era a hora.  Acordar todo suado,  tomar um banho,  seu café da manhã e aproveitar seu primeiro dia de férias. Só havia um problema,  aquilo não era um pesadelo.
Surge uma silhueta na porta.  
―  O que houve aqui?  ―  Grita Baxter,  era dele a silhueta.
Dennis,  paralisado de terror,  nada responde.
Baxter caminha lentamente em sua direção,  desviando friamente dos corpos.  Apenas 4 velas permaneciam acesas.
―  Estão todos mortos!  Todos mortos!  ―  repetia Dennis.
―  Fique calmo,  Dennis.
―  Não é verdade.  Estão mortos!  Estão……. ―  desmaiou.
Faltavam 24 minutos para a meia-noite quando Dennis acordou.   Más notícias.   O pesadelo não acabara e,  para piorar as coisas,   estava preso a uma tora de madeira.  Suas mãos foram amarradas para trás.   Um laço com duas voltas em seu tornozelo o impedia de qualquer movimento.  
―  Hei,  me tirem daqui!
O lugar estava bem iluminado,  todas as velas foram acesas.   O brilho das chamas deixara as estátuas ainda mais assustadoras.   Agora dava para ver um enorme círculo desenhado no chão,  em volta foram desenhados 33 pentagramas pequenos.   No centro de cada pentagrama havia um aluno morto.   No centro do círculo estava Dennis.
―  Oh, meu Deus,  o que está acontecendo aqui?   Hei, se isto aqui for algum tipo de brincadeira,  saibam que foi de mau gosto.   Eu quero sair daqui!
Baxter aparece.
―   Vejo que já acordou.   Está mais calmo agora? 
―   Mas que porra é esta?   O que fez com meus amigos?
Baxter sorriu meio sem graça,  e caminhou lentamente até Dennis.  Segurava uma caneca com a mão direita e uma faca ensanguentada com a esquerda.
―   O que está acontecendo aqui?  ―  Dennis tentava se desprender das cordas,  mas era impossível.
Baxter permaneceu em silêncio,   apenas fitava Dennis dos pés á cabeça.
―   O que está olhando,  seu bicha?   Eu percebi que você não parou de me olhar desde chegamos aqui.  Não vai conseguir nada de mim,  seu bicha.   Se tentar alguma coisa eu te mato antes.
Baxter olhou para o relógio,  sorriu e colocou a caneca e a faca no chão.
―  Tudo bem,  garoto.  Ainda tenho alguns minutos,  vou matar sua curiosidade.   Quer saber quem sou eu?
―  Uma bicha assassina.
Baxter sorriu.
―   A história é longa,  meu rapaz.  Precisaria de mais tempo para conta-la,  por isso vou resumi-la.   Não sou Henderson Baxter,  meu nome é Khalin Jaahmar,  nasci em 1074 na cidade de Assuã,  Egito.
―   Você é mais maluco do que eu pensava.  
―   No ano de 1093 eu descobri algo que mudaria minha vida para sempre.  Apesar de ter acontecido há mais de 900 anos eu ainda me lembro como se fosse ontem.   Eu estava voltando da casa de meus tios,   sozinho,  meu único companheiro era o rio Nilo.   A viagem era longa,   eu estava cansado,  meu corpo todo doía,  eu havia caminhado o dia inteiro debaixo de um sol fortíssimo.  Resolvi me deitar à margem do rio.   De repente eu vi alguma sobre a água.   Era um pergaminho.  Seus dizeres misturavam hebraico com outras línguas.  Foram necessários anos para que eu tivesse acesso aos ensinamentos ali contidos.  
―   Corta este papo furado.  O que pretende de mim?
―   No pergaminho havia encantamentos para ressuscitar antigas criaturas da noite.  Mas como tudo na vida há um preço a se pagar,   as criaturas também pedem algo em troca.    Em 1099 eu trouxe á vida uma destas criaturas pela primeira vez.   Nunca sentira tanto pavor como naquela noite,   mas acabou dando tudo certo.  Ali eu consegui minha primeira fortuna,  em troca eu precisei sacrificar 7 virgens para a criatura.   Bom negócio,  posso assim dizer.   Os anos foram se passando e eu alternava os encantamentos de acordo com as minhas necessidades.   Houve riscos em todos eles,   pois lidei com criaturas poderosas que não fazem a menor idéia do que seja sentimento.   Trata-se de uma troca.   Se a minha parte no trato não é cumprida eu pago do mesmo jeito,   com a minha própria vida.   Mas depois destes anos todos eu aprendi muito,  apesar de sentir um friozinho na barriga nos minutos que antecedem a presença destas criaturas.
―   Meus amigos.  ―  Dennis começara a chorar.  ―  Todos mortos.  Como pôde fazer uma coisa dessas?
―    Eu precisava de 33 corpos saudáveis para a criatura desta noite.  Consegui até 4 a mais,   mas já me livrei deles,  pois os encantamentos devem ser levados à risca.   Foi uma ótima idéia ter colocado veneno na cerveja.   Muito mais fácil que…….
―   Filho da mãe.  
―   Em troca eu terei 18 anos novamente.   Ou melhor,  seu corpo será meu.
―  O quê?
―   Após a criatura receber os 33 corpos eu receberei minha parte,  o poder de passar deste corpo para um outro,   o seu.
―   Você está delirando.   Isso é impossível.  
―   Não é,  meu rapaz.   Daqui a poucos minutos eu serei você.   O corpo de Henderson Baxter morrerá.  Estive nele por quase 40 anos. 
―  Isso é loucura.
―  Quando a polícia chegar irá encontrar Henderson Baxter morto.  Após as investigações chegará á conclusão de que ele foi o assassino.  Você estará livre,  ou melhor,  eu estarei livre.   Ah,  esqueci de te dizer,  ontem eu fui ao banco e transferi todo o meu dinheiro para sua conta,  quero dizer,  minha conta.   Perfeito.  ―   olha o relógio.  ―   Está chegando a hora.   ―   abaixa e pega a caneca.
―   Vai me envenenar também.  Devia ter feito antes de contar esta estória idiota.
―   Não é veneno,  seu idiota,   é apenas um sonífero.   Você é jovem,  tem mais força do que eu.  Não quero arriscar.  Será mais seguro fazer a troca dos corpos com você dormindo.
―   Seu filho da mãe,  você vai arder no inferno por isso.
―   Eu sei disso.  ―  e colocou a borda da caneca entre os lábios de Dennis.  ―  Vamos,  beba. 
Dennis fechou a boca.
―   Você não tem nenhuma chance de escapar dessa,  meu rapaz.  Facilite as coisas.
Permaneceu com a boca fechada.
―   Tudo bem,  já entendi.  Não quer cooperar.
Khalin socou-lhe o estômago.
―   Perdão,  mas você pediu.  ―  e colocou novamente a caneca entre os lábios de Dennis,  que não se opôs desta vez. ―   Isto,  não complique mais as coisas.
No momento em que Khalin começara a despejar o sonífero dentro da boca de Dennis,  o chão tremeu e sons horríveis ecoaram pelo local.   Khalin derrubou a caneca.
―   Merda! 
Dennis sentira um pavor enorme,   pois até ali não acreditara em nada do que ouvira.   Seu professor estava louco,  era o que pensava.   Mas um louco não faria a terra tremer daquele jeito.   Seria a tal criatura?
―   Preciso terminar de recitar os versos do pergaminho ou isso aqui será o caos!  ―   pegou a faca,  fez um corte em forma de cruz sobre seu peito e começou a recitar os versos.
A cada segundo que passava o chão tremia com mais intensidade e os sons ficavam cada vez mais altos.   Apenas algumas velas permaneciam de pé,  diminuindo a iluminação.
Khalin termina de recitar os versos.
―   Agora você já pode vir,  seu filho da puta.   Temos negócios para tratar.
O sonífero fizera efeito,  Dennis estava dormindo.  Khalin olha em sua direção.
―   Ah,  maravilha.   Está tudo dando certo.
Khalin o desamarra e o arrasta para fora do círculo.
Um buraco começa a se abrir no meio do círculo,   sons horrendos e um cheiro podre invadem o ambiente.   Apenas duas velas permanecem de pé.   A escuridão é quase total.   Algo monstruoso salta do buraco,  não era possível vê-lo com clareza,  mas media uns 3 metros de altura e movia-se como um gorila.
―   Eu lhe trouxe os 33 corpos,  poderosa criatura da noite,  aproveite o banquete.
A cada passo da criatura o chão tremia.   Era possível ouvir o barulho dos corpos sendo rasgados e dos ossos sendo triturados.
―   Aproveite o jantar,  filho da puta,  hoje é por minha com……
De repente Khalin sente uma facada no peito.  Era Dennis.
―   Vou mandar você para o inferno.
―   Dennis?  Mas……
―   Fingir que está dormindo é a coisa mais fácil do mundo,  seu imbecil.  ―   pegou a cabeça de Khalin e bateu-lhe contra o chão com toda a força.
O chão começou a tremer novamente,  era a criatura vindo em sua direção.   Apavorado,  Dennis viu a porta aberta e correu em sua direção. 
A criatura o perseguira.   Não.   Fora só sua imaginação,  continuara devorando os corpos dos alunos do 3° Ano, classe C,  do Colégio Marlyn.
Dennis finalmente realizara um de seus sonhos:  dirigir o velho ônibus do colégio,  e o fez como um louco.    Realizou o trajeto sítio-colégio em 37 minutos,   e mais 2 minutos para chegar até a casa do xerife.
Convencer o xerife com a sua história foi o mais complicado,   foram necessários 29 minutos.   Omitira boa parte da história,  pois sabia que se contasse o xerife voltaria para a cama imediatamente.
O xerife reuniu convocou dois dos seus melhores homens e partiram rumo ao sítio do Sr. Henderson Baxter.   Dennis fora pra casa,   em estado de choque.
A população da pequena Silver Hill amanheceu chocada.   Antes das 10 horas da manhã todos já sabiam dos fatos,  1 professor e 4 estudantes mortos e mais 33 estudantes desaparecidos.    Dennis,  o único sobrevivente,   fora assediado logo cedo,   mas o único que pôde entrar em sua casa foi o xerife.
―   Olha,  filho,  sei que você deve star muito abalado com tudo o que viu ontem,  mas eu preciso lhe fazer algumas perguntas.
Dennis não conseguira dormir a noite inteira.
―   Henry,  ele não tem condições para isso!  ―  a mãe de Dennis estava mais assustada ainda.  ―   Deixe-o em paz.
―   Está tudo bem,   mãe.   Eu quero ajudar.  ―   e virou-se para o xerife.  ―  O senhor pode me contar o que encontrou lá?
―    Chegamos e encontramos a casa vazia,  então começamos a procurar pelo local que você me descrevera.    Localizamos e vimos o suspeito,  o professor.
―   Mas e os corpos?
―   Encontramos 4 estudantes esfaqueados na piscina.  Os outros permanecem desaparecidos.
―   E o professor,  estava sozinho?
―   Sim,  levara uma facada no peito.
―   Estava morto?
―   Esta é uma das partes mais esquisitas da história.
―   Como assim?
―   Quando chegamos o professor parecia morto.   Um dos meus homens,  Chambs,  se aproximou cuidadosamente do corpo e…..
―   O que houve?
―   Levamos o maior susto.  O professor pulou na perna de Chambs e caiu morto.
Dennis ficou branco e seu coração disparara.
―    Você está bem,  garoto?
Dennis não conseguia responder,  estava paralisado.   O xerife correu na janela e gritou:
― Chambs,  corre aqui!  O garoto está passando mal!  ―   e virou-se para Dennis.  ―   Ele fez curso de enfermagem.
Chambs entra,  ajoelha-se diante de Dennis,  sorri e sussurra ao seu ouvido:
―   Quando esfaquear alguém,  meu rapaz,  lembre-se de acertar o coração.